> Roccana Poesias: 07/2005

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"Poesia traz vertigens. Ora cruel, ora leve, ela é desnuda."

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6.7.05

Não sou metade

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rejeito a pureza
desdenho a virtude
renego a renúncia
não quero ser alguém
que não se assume
não se entrega
e não se arrisca
não quero a imaculada cama
sem prazer
a intocada pele
sem sentir
a impecável vontade
sem se dar
não quero a vida pela metade
porque, quando me olho no espelho,
estou lá inteira
corpo, alma, coração
pele, pêlos, apelos
não dá pra esconder
fingir ou negar
a vontade e o desejo
assumo que te quero
e não é um querer desinteressado
porque quero tudo
teus pensamentos
teu sono
teu corpo
teu olhar
teu cheiro
teu desejo
e tua respiração
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To Cansada

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to cansada dos meus medos dos meus cuidados dos meus prazos dos meus bloqueios da minha total incapacidade de mudar a minha vida refazer a minha rota cansada da distância da impossibilidade do não realizado to no meu limite to carente to chutando o balde to com vontade de tomar um pileque de quebrar uns pratos de bater a porta de dançar na chuva mergulhar no nada decifrar tua cara me entregar ao vento me entregar ao tempo me deixar levar me atirar no abismo me cravar as unhas de me absolver cair na gandaia cantar serenata comer chocolate ver o sol nascer caminhar na areia me molhar no mar e pegar um trem que me leve urgente pra qualquer lugar