> Roccana Poesias: 09/2005

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"Poesia traz vertigens. Ora cruel, ora leve, ela é desnuda."

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27.9.05

Como desejava as tuas palavras

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tua língua de palavras me tocando a pele
acalmando a minha dor
tua língua de idéias delirantes
me aturdindo e me alcançando
tua lingua de segredos
sussurrando minha morte
tua língua ardilosa
me tornando tua cúmplice
tua língua estrangeira
me exilando do meu corpo
tua língua úmida
de promessas nunca feitas...
em tua língua de silêncios
minha alma agonizava
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A velhice é a sabedoria da vida
Já, a morte prematura, a grande interrogação...


Entrega

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vivo o momento em que sensação e emoção caminham juntas na mesma direção

e o teu olhar e o meu convergem, se encontram e se enternecem
e o teu cheiro e o meu se misturam numa química única e perfumada
e o nosso hálito exala mais paixão e emoção do que qualquer palavra
é o momento em que o sonho e a realidade viram um só
o nosso corpo explode e se projeta em direção ao outro
em forma de luz, de poema, de amor e sensibilidade
e a pele e a alma finalmente se encontram
serenas, apaziguadas, entregues
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Vingança

Ainda te pego de jeito
E me vingo de ti
Vou à forra
De cada dia
Que te esperei
Te castigo
Por cada noite que
Passei sem ti
Te arrasto
Com a urgência
De um condenado
Com a pressa
De quem não tem
Mais tempo a perder
Com a fome
Dos infelizes
Dos desvalidos
Com a aflição
De quem ansiava
Pelo seu amado
Por um tempo infinito
Mas que finalmente
Vê esta espera acabar

26.9.05

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me disse um poeta: "morrer é encantar-se"

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Você

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Você tortura
Eu praguejo
Você instiga
Eu desejo
Você me olha
Eu não vejo
Você me bate
Eu te beijo
Você me exclui
Eu te almejo
Você me canta
Eu solfejo
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Só me entendo no caos

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só me acho se me perco só respiro se me afogo só destruo o que não fiz só desisto se insisto só me busco se te encontro só navego em meu soluço só naufrago em águas calmas só tropeço se caminho só me acalmo se não penso só me vejo se insisto só me entrego se desejo só desejo o que me arde só transpiro se me lanço só me arrisco se suspeito só me inspiro se enlouqueço só reflito o que há no espelho
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25.9.05

Gosto


este gosto na minha boca
é de saudade
esta ardência no meu corpo
é a tua ausência
esta música que ouço
é o teu silêncio
som em descompasso
arritmia no meu peito
dó desafinado
dolorido
vazio a ser preenchido
de tudo que não vivi contigo
este gosto de saudade é amargo
mas é doce a lembrança do teu beijo
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24.9.05

Eu

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eu não sou daqui nem de lugar nenhum eu não me pertenço e nem a ninguém, eu não sei de nada e nem sei de mim eu sou frente e verso e sou lugar comum eu sou vice-versa do que disse antes e escrevo versos que nem rima têm eu sou tentativa sou repetitiva e sou desistência e resisto bem sou mulher distinta sou mulher da vida sou bem aluada e mulher de bem sou voto consciente sou indecisão sou voto vencido sou revolução eu sou fantasia e sou pé no chão sou lá do interior e me viro bem

sou papel de pão sou papel de carta sou naftalina gaveta fechada sou janela aberta porta escancarada sou vinho do porto sou caneca d’água tenho tpm tenho cpf tenho identidade e sou de maior sou menina ainda quero colo afago quero ser amada quero ser mulher muito mais que filha gosto de ser mãe muito mais que a morte vale a pena a vida muito mais que triste tenho sido alegre muito mais que a dor é a aceitação
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Universo

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Teu olhar é o sol
Teu toque cometa
O céu é a tua boca
Teu sexo saturno
Tuas mãos lunares
Tateiam minha via láctea
Seios arfantes
Luas minguantes
Estrela no mar
Meteoros, crateras
Estrelas cadentes
Gravitam assim
Perdidos, insones
Sem rota, sem rumo
Fora do prumo
Fora do eixo
Se você não anoitece,
Por de sol e delírio,
No meu corpo celeste

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