> Roccana Poesias

*

.
.

"Poesia traz vertigens. Ora cruel, ora leve, ela é desnuda."

.
.

25.10.12

Sim!

danem-se os indecisos
os que não se atrevem
os que não dizem não
os que negam até o o fim

danem-se os certinhos
os donos da verdade
os falsos moralistas
os cheios de razão

sumam da minha vida
os que dissimulam
os que (se) iludem
os que não se assumem como são

cansei de quem morre de medo
de quem morre de culpa
de quem não fala a verdade
de quem não diz a que vem

Como somos


somos sonhos

somos somas
somos sina

sementes

sons

e
       silêncios

sombras
segredos





às vezes
somos
sem sentido














11.8.11

Teimosia

.
eu sei que não pode, que não dá, que tem alguma coisa esquisita nisso tudo
penso e repenso e peso e pondero mas não consigo sair
fico
insisto
que as vezes sou tomada de uma teimosia que nem sei de onde vem
até quando, não sei
provavelmente
até um dia constatar que tem coisa melhor pra eu perder meu (precioso) tempo,
pra gastar minha saliva,
minha sedução mal sucedida
e minhas mal traçadas linhas

26.9.10

Primavera

.
saudade, coisa mais inútil
só serve pra fazer poema
poema triste
que rima amor e dor
nada a acrescentar
a não ser
que um dia cansa
de tanto sentir
talvez a primavera
traga novas rimas
no bico de um beija-flor

18.7.10

28.6.10

Demora

.
nunca fui fácil
mas, também, nem tão difícil
que você não pudesse entender

nunca fui doce
mas, também, nem tão amarga
que você não pudesse provar

só que estas coisas todas
meu gosto, meu jeito, minha loucura
você só poderia saber
se tentasse
mas você demorou demais
e eu não quis esperar

.

Teu nome

.
ando escrevendo teu nome nas vidraças
no espelho do banheiro
em guardanapos de papel
observo cada letra
teu nome na minha mão
você na minha escrita
acento agudo

teu nome que grita
e eu nem quero ouvir

.

Braille

.
cada vez que ele me olha
me sinto nua
livro em braille
mesa arrumada para o jantar
cinema mudo
suspiro incontido
banho de chuva
goiabada com queijo
queria tanto teu beijo...

.

27.10.09

Que fizesse sentido


eu queria que,
estando ao teu lado,
tudo fizesse sentido
sentido de pele
sentido de nexo
sentido de sexo,
de sentir que o sentido
é a gente quem faz
sem sentir medo
do sentimento

.

13.10.08

Fique aqui

.
me deseje
me queira, me abrace,
não saia de perto de mim
me surpreenda
vamos sair por aí, de mãos dadas
namorar
faça eu acreditar que você enlouqueceu
dance na chuva
faça serenatas
cante só para mim
(desafinado, inspirado, declarado)
seja imperfeito
se mostre, se assuma
fique com raiva
me beije com raiva
me morda
depois me acalme
me traga um chá
e esqueça do chá, em cima da mesa
me beije os olhos
cuide das minhas feridas
olhe meu corpo
me abrace apertado,
me abrace de corpo inteiro
esfregue a sua barba em mim
me faça rir
e me deixe acreditar que tudo pode ser assim
.

25.9.08

Mudez

.

eu poderia falar tanta sacanagem, ser tão indecente e obscena

não falo

hoje não vai ter rima, nem poesia, nem nada

apenas minha boca

calada

muda

fechada

14.9.08

Com sentimento


já não somos mais crianças nada é como antes não sou ingênua nem frágil mas ainda gosto de ouvir que você não vive sem mim que sou tua dona Aninha e me aninha entre teus braços e entre as tuas pernas e me dá colo e me beija e morde agora assim desse jeito que você sabe que me arrepia e me faz querer falar e dizer e pedir e tocar e dançar e rir sem parar perder o ar e esquecer da vida e esquecer do avançado da hora e do avançado do tempo e da tua mão que não pára e lembra que eu tenho urgência e nenhuma pressa vê se me entende não vai embora não desiste de mim me cuida me embala me toca com teus dedos acostumados com as cordas do violão e me canta faz serenata e me cala e consente e só sente e sente e sente...

22.8.08

Ana

.
sou anacrônica
palíndromo de três letras
as vezes lacônica,
contraditória
tenho dias de leveza
e encantamento
mas nem sempre
sou assim
há dias em que sou ferina
advogada do diabo
testemunha de acusação
há dias em que sou vítima
uma pobre coitada
jogada pelos cantos,
sem nenhum valor
nessas horas
não quero ver ninguém
nem que ninguém me acolha
não quero papo
não quero nada
só ficar assim
morrendo de dó
de mim

Linguagem

.
.
A linguagem das palavras é poderosa
como também é poderosa a linguagem
(sem palavras) do corpo.
A língua é o ponto.
Ponto e vírgula.
Língua em ponto.
Pontualmente, fala
Desliza.
Geme.
Poderosamente, falo
Pulsa.
Pontua.
Demoradamente lavra.
Palavra bem dita.
Que, quando cala, consente.
E sente.

É quando
Languidamente silenciam
Dois pontos
Que se tocam
Mudos.

.

26.7.08

Erotismo

Meu erotismo é todo vestido,
todo tapado,
blusão de lã e meias grossas.
Meu erotismo é bem escondido,
disfarçado de dona de casa,
de mulher madura,
de seriedade e cara fechada.
Meu erotismo é guardado
embaixo de mil lençóis,
atrás de paredes grossas,
perdido em velhos conceitos,
em fórmulas e em tentativas.
Meu erotismo surge do nada
num verso, num vento morno
num cheiro, numa saudade .
Chega, até numa chuva,
no fim da tarde.
E vem,bem assim...
de graça,
sem nenhuma finalidade!
.
.

25.7.08

Roteiro

.
é sempre do mesmo jeito
o beijo, a pele, o olhar
a entrega, e o mesmo caminho.
na parede, tem a sombra
tem o vento, na cortina
e tem, sempre, uma procura...
.
tem a busca, o faro, o cio
o suspiro e os olhos fechados
tem teu gosto, tem teu beijo
na parede, tem a sombra
tem o vento, na cortina
e tem, sempre, a mesma urgência...
.
tem sempre o corpo colado
a dança, os sons abafados
o gesto certeiro, o tatear
tem o arrepio, a entrega,
a tua respiração
e a minha falta de ar...
.

22.4.08

Boa de briga

.

lamento informar:
de mim você não vai receber
só amém
aqui há muito de contrariedade
de implicância
um quê de guerra fria
uma certa rebeldia
- sem causa, às vezes,
devo reconhecer.
.
aqui você não vai ter sossego
existe um terreno minado
território a ser demarcado
conflito, tumulto
tenho muita munição
não sei fingir que sou santa
ou pacata, ou concordata
não sei disfarçar
o que não concordo, não aceito,
e nem a minha inquietação.
.
lamento dar a notícia assim,
sem escolher as palavras,
sem dourar a pílula
botemos na mesa as regras
as táticas e as negociações
que fique claro:
nada está combinado,
definido ou acertado
não vou concordar com teus motivos
teus prazos, nem tuas omissões

posso até te aceitar
cheio de defeitos, de equívocos,
de histórias mal contadas
de desatinos e de fracassos
só não vem pregar moral de cueca
ô, meu santo do pau ôco

19.11.07

Carnaval



Arte Sara Mello



Meu corpo virou strass
Minha alma purpurina
Fiquei bonita pra ti
Como roupa na vitrina
Me vesti de carnaval
Rebordando a melodia
Bate o samba, bate palmas
Bate a luz e me ilumina
Me sentindo um pierrô
Um palhaço, ou colombina
Passa a banda, passa a moça
Passa a vida, lá na esquina



.
.
.

17.11.07

.


escorre molha inunda
transpira umedece nua
emudece suave molha
água e suor
sangra
abraça suado
salga
água na boca orvalha
sede e saudade
sonha
chuva gelada
água fria na cara
acorda

22.6.07

Sinto

tua mão delineando meu rosto
os teus dedos
percorrendo suavemente
meus olhos fechados
e meu perfil

é o teu toque
reconhecendo a minha boca
minha pele
e minha alma

Vergonha!

assim, do nada...
ele pegou um papel
e começou a ler...
eram minhas palavras
ditas por ele
meus versos
falados assim
pausadamente
como se tirasse a minha roupa
eu
ali
nua
crua
e rubra

O que sou

.

sou apenas uma versão dos fatos
um ponto de vista
uma idéia que surgiu, de repente
sou só uma possibilidade
o lado de cá da rua
um reflexo na vitrine
sou um livro na estante
que não encontra tempo pra ser lido
sou janela aberta, na manhã
folha carregada pelo vento
pingos de chuva molhando a terra
e trazendo o cheiro de infância, no ar
não quero ser mais do que isso
invenção de mim, intuição, crença
sentimento e instinto
enfrentamento e pé no chão
.

23.3.07

Eu em ti

.

eu me renovo
e me revelo
eu me surpreendo
e me estranho
eu me desvelo
e me afogo
eu me desnudo
e te descubro
eu me exponho
e então me escondo
e não me atrevo
eu me acovardo
eu me suporto
e me esqueço
eu me repito
e me refaço
e te renovo
te respiro
eu te surpreendo
e te estranho
eu te alimento
e te afago
eu te desnudo
então te cubro
eu me atrevo
e me aventuro
eu te aqueço
e te aninho
e adormeço
em teu abraço

.

Toque

fecho os olhos
e sinto agora
que estás perto de mim
mesmo que digas não
mesmo que negues tudo
mesmo que te recuses
mesmo que não suportes
mesmo que não me queiras
mesmo que te incomodes
mesmo que te enganes
mesmo que não percebas
fecho os olhos e quase te toco
quando toco em mim

Encontro

aquele encontro
foi como um rito de passagem,

definitivo
mágico
inadiável
mas cheio de despedida
de desalento
de desassossego

foi um chegar e ir embora
desejo e nó na garganta
deslumbramento e dor
abraço de chegada e de partida
.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
(Contador em 23/03/2007 às 13:00)

6.3.07

Marcas

... e tudo foi ficando tão longe, tão lá atrás que parece que nunca existiu.
É como se tivesse sido um sonho (que sonhei sozinha).
Não saberia se nos tocamos ou se delirei, não fossem as marcas... na minha pele

9.11.06

Intacto

foi alí
entre confusa e espantada
entre incrédula e feliz
no meio da sala e da vida.
foi assim
simplesmente fechando os olhos
que descobri
naquele momento exato:
estava tudo ali.
intacto

19.8.06

De ti

.
de ti todas as palavras
e, de todas as palavras,
todos os nãos e todas as possibilidades
todas as incoerências e todas as sensações
de ti toda verdade e todo delírio -
que convivem e se complementam
de ti toda a minha gana e o meu desalento,
toda a minha dor e meu prazer,
toda a luz e minha escuridão, todas as minhas quedas e
sempre um olhar de quem entende e aceita
de ti a provocação, a dor, a transgressão, a cor,
a rima e o avesso, a pele e o apelo,
o nexo, o inverso, a vontade e a sublimação
de ti o gosto primitivo, animal, a força, o instinto,
a vontade incontida, o desejo, o cio
de ti o etéreo, o por-de-sol, o lilás, a música suave,
o acalanto, o olhar doce, o meu pranto e a lua
de ti silêncio, intimidade, entrega
e profunda sensação de paz
.

10.7.06

Imagem

em frente ao espelho
tiro a roupa
jogo tudo no chão
me olho
frente e verso
e me encaro
meu olhar é duro
seios
de quem amamentou
barriga
de quem pariu
pelos
pernas afastadas
braços soltos
pés no chão
perfil
gosto do que vejo
em frente ao espelho
uma vida inteira
constato
que o espelho, cúmplice,
me sorriu
não pela imagem
que espelhava
mas por tudo
que intuiu

9.6.06

Leveza

há em nós
uma delicadeza
um cuidado
uma leveza
há tanto carinho
tanto querer
tanto sussurro
há tanto arrepio
vontade
suavidade
e há uma carícia leve
tão breve
que nem sei se é real
ou se é sonho

26.5.06

Sede

se transbordo em lágrimas e suor
se me liquefaço em teus lençóis de areia
se minha boca te umedece
se verto água para aplacar a tua sede
como uma nascente farta e me derramo em ti,
areia do meu deserto,
calor que teima em arder em mim
é porque também em mim transbordas
como rio, fluxo, vertente que sacia
também sou areia incandescente,
se em mim não chega tua chuva
somos água que mata a sede um do outro
e sol que queima, aridez e solidão

19.5.06

Viagens

Leio nos teus olhos
O que não ousas dizer
Nas palavras
Ou será que me engano
E não revelo
O que em ti se esconde?
Ou será que há uma intenção
Não declarada
E que apenas se insinua
No teu gesto,
No teu sorriso e na
Tua disponibilidade?
Não decifro tua cara
Mas percebo que te excito
Confundem-me tuas auras
Tuas cores, tuas mágicas
Me encontro em teus delírios
Viajo nas tuas idéias
Embarco na tua loucura
Me vejo representando
Uma personagem
Que, se existia em mim,
Estava, há séculos, trancafiada
E, agora, ensandecida,
Teima em se revelar
Como num filme cheio de climas
De cenas, de sacanagem
Sem começo, meio ou fim
Sem sentido, sem enredo, sem nexo
São viagens irreais, mas devastadoras
Sensações que me deixam assim
Entregue, suada, exausta
Mas nunca saciada

16.5.06

Novos tempos

ah, a liberdade!
(ainda que tardia)
a delícia das manhãs
com sol
as longas tardes
sem horas marcadas
e as noites
de descobertas...

Hoje

várias palavras e rimas
vários sentimentos e versos
mas nada virou poesia
só o dia

19.4.06

Incontido

meus olhos te beijam lentamente e ardo em febre delírio calor e dor tento entender o drama o fogo a cama tento conter o que se derrama em mim o peso do teu corpo o cheiro do teu corpo o gosto do teu corpo tento abafar ruídos e suspiros e sons e gemidos que seja calmo que seja lento que seja doce tento adiar o drama o fogo a cama inútil impossível impensável entender ou conter abafar ou adiar o que não se explica o que não se acaba o que não tem cura o que deixa marcas o que me domina o que me sacia o que me completa e perdida em sonhos tremor e febre meus olhos te beijam lentamente num olhar sem fim

6.4.06

Levito

quando, enfim,
deito ao teu lado,
levito
e evito te tocar
fico assim, imóvel
o meu corpo nem é meu
o teu corpo nem é teu
é tudo tempo
é tudo dança
é tudo alma
é tudo calma
agora
que o amor se fez

10.3.06

8.3.06

Líquidos

emudece
umedece
água na boca
beija suave
toca molhado
escorre

transpira
sua salgado
abraça suado
rega
inunda
molha
em líquido amniótico sonha
chuva gelada
água fria na cara

chora

8 de março


Um belo dia nos percebemos meninas. E somos educadas para ter modos de menina. E o tempo vai passando e viramos adolescentes, com todo o peso que isso possa ter: padrão de beleza, de magreza, de visual, somados às dúvidas e questões que sempre surgem nesta fase. Fase em que aprendemos a ser amigas, a ter amigas, a viver em bando, a conviver, depender, curtir, trocar... E, enfim, nos apaixonamos. E viramos namoradas. Querendo conquistar, seduzir, encantar... E a vida segue seu curso. Vamos nos transformando em estudantes, trabalhadoras, cidadãs, consumidoras, contribuintes, eleitoras, fatias do mercado... E nos casamos. Viramos parceiras. Viramos amantes. Viramos donas de casa. E viramos mães. E nos dividimos. Nos multiplicamos. Somos arrumadeiras, passadeiras, vamos às compras, cuidamos do jardim, limpamos a casa, tentamos entender de psicologia infantil, de economia doméstica, de questões sociais, medicina alternativa, horóscopo chinês, queremos nos manter atualizadas, interessantes, magras, atraentes, queremos ter senso de humor, e ter bom senso, e ter senso prático e não sonhar demais. Queremos nos enquadrar e não deixar de sonhar e amadurecer e manter o equilíbrio e manter as contas pagas e viajar e reformar a casa e pintar o cabelo e acertar a cor e a fazer ginástica e olhar vitrines e não esquecer do pré-câncer e do exame de mama e não esquecer dos aniversários e manter a casa organizada e ter tpm sem agredir ninguém e ter depressão sem ninguém notar e assistir novela e ler o jornal e olhar pro céu e olhar pro mar e ler poesias e fazer amor e não desistir e olhar no espelho o tempo passar a vida passar e só então entender que só o que queremos é ser exatamente assim: únicas, imperfeitas, plenas, imprevisíveis, livres, assumidas, capazes de cultivar amigos, de viver o amor e acarinhar os filhos e tocar a vida e ser simplesmente uma mulher feliz!

3.3.06

Datas

sei das datas
dos dotes
dos dedos
sei dos dramas
das tramas
das tragédias
vejo no tempo
a marca
o traço
a agonia
sinto na pele
a tua falta
sinto na alma
a tua volta
busco outras vidas
outros ares
outros caminhos
mas, agora
nada disso importa
nem prazos
nem ritos
nem datas
apenas
o aqui
e o agora
simples assim
sem começo
meio
ou fim

13.2.06

Seiva e sangue

se meu corpo verte sangue e chora
é porque sou natureza
seiva que de mim escorre - inútil
agora que é passado
o tempo de florir

se meu corpo verte sangue agora
é porque existe em mim
data marcada
ritmo e fluxo
qual maré embalada pela lua

se meu corpo verte sangue, enfim
é porque é chegada a hora de me ver
simplesmente
em crua, misteriosa e nua
purificação

Só assim

se você me adivinha
me saca
me sabe
se você se antecipa
me prevê
me conhece
assim
como a palma de sua mão
então pára com isso
de se fazer de desentendido
de fingir que não ta vendo
porque não vou acreditar
e se eu duvidar
você vai ter que me provar
que me adivinha
que me conhece
e que me tem
então, só aí, nesse momento
te dou a mão a palmatória

8.2.06

Regeneração

Caminho a teu lado
Navego tua rota
Viajo sem volta
Revejo o trajeto
Lamento o meu erro
Disfarço a tua cara
Provoco o desejo
Me espanta tua ira
Me lanço no escuro
Adio as mudanças
Defino meus álibis
Planejo meu crime
Escondo tuas provas
Te vejo no espelho
Revejo tua pele
Desejo tua fome
Suporto minha sede
Engulo meu pranto
Rumino teu medo
Desisto de tudo

Caminho no espelho
Navego teu medo
Viajo tua fome
Revejo meu crime
Lamento tua rota
Disfarço minha sede
Provoco tua pele
Me espanto a teu lado
Me lanço do nada
Adio meu erro
Defino o trajeto
Planejo as mudanças
Escondo meu pranto
Te vejo no escuro
Revejo meus álibis
Desejo tua ira
Suporto o desejo
Engulo o que sinto
Rumino a tua cara
Desisto de tudo

Te ter

Te amar me liberta
Me joga pra vida
Rompe amarras
Me dá coragem
Me inspira

Te desejar me faz
Sensibilidade pura
Encantamento, suor
Instinto, pele
Me atiça

Te querer me anima
Me descortina
Mil possibilidades
Trajetos, Projetos
Me ilumina

Te ter por perto
Me deixa em paz
Porto seguro, lar
Abraço amigo
Me acalma

Lavras do Sul



Lá, na casa da minha infância
As coisas pareciam eternas
Vidraças por onde eu via a cidade
Repetição de dias tão iguais
Aromas, muros, terra molhada
Sons e sombras embaixo dos parreirais

Dentro de mim ainda mora aquela menina
Onde me escondo, às vezes

Silêncio nas noites de fantasmas
Universo de inquietude e solidão
Lá ainda mora uma parte escondida de mim

Chega

cansei, enjoei,
não te quero mais
não faz sentido
não tem por que
não preciso disso
nem daquilo
não te quero assim
nem assado
nem vem
que não tem

31.1.06

Livre

não te quero óbvio comum previsível sempre a mesma fala sempre a mesmice de sempre te quero como tu és livre errante errado atento atroz instigante intimo inconformado viajante tentativas várias inquietações constantes nenhuma certeza nenhuma dúvida só a procura nada a esconder nem nada a declarar nada a conter riso fácil lágrima também paixão e calma som e silêncio o essencial o detalhe quero o teu olhar e os teus olhos fechados a tua tensão e a tua entrega o sentir e o provocar te quero caminhando fluxo fluente fluido concreto abstrato múltiplo único íntegro inteiro te quero com fome vontade de mim pedindo colo pedindo calma pedindo abrigo me amparando me confundindo me sacudindo me desejando me abstraindo me sufocando me respirando me transformando me atraindo porque só mexe comigo quem tem este jeito de chegar e de ir partindo

Sinais

troca de palavras
de olhares
intenções
troca de segredos
de amores
tesões
troca de verbetes
e-mails
canções
busco no teu site
artigos, teses
lições
leio em tuas mãos
caminhos, retornos,
tensões
adivinho nas tuas cartas
destinos, rotas,
canções
tatuo em tua pele
carícias, viagens
impressões
quero ser levada
por ventos, por sonhos
paixões

25.1.06

Subversão

Me conta as tuas dúvidas
Me cobra as tuas dívidas
Me fala dos teus medos
Quero os teus segredos
Tuas inconfidências
Tuas coisas obscenas
Me revela a tua senha
Me mostra teus descaminhos
Desnuda teu corpo
Expõe tuas indecências
Me incita pra tua guerra
Me arrepia com teus dedos
Me transporta pro teu mundo
Me conta teus planos
Me faz tua cúmplice
Me subverte
Depois vai embora
Esquece isto tudo
E me deixa quieta

14.11.05

Essência

.

E
NFIMSÓSIMPLESMENTEEUNÚCLEOCONFUSOINTIMOARDENTE
SÓSIMPLESMENTEEUNÚCLEOCONFUSOINTIMOARDENTE
SIMPLESMENTEEUNÚCLEOCONFUSOINTIMOARDENTE
EUNÚCLEOCONFUSOINTIMOARDENTE
NÚCLEOCONFUSOINTIMOARDENTE
CONFUSOINTIMOARDENTE
INTIMOARDENTE
ARDENTE
.

13.11.05

Lembranças

lembro da palavra não dita
de cada promessa calada
de cada abraço negado
minha pele anestesiada
do teu corpo que não tive
do meu verso não rimado
de toda a beleza escondida
segredo não revelado
lembro de cada manhã
que não vi teu despertar
de cada cama desfeita
sem meu sono repousar
dos teus olhos sem me ver
minhas mãos sem te tocar
do amor que não fizemos
do que não ousei arriscar
dos sonhos que não sonhei
dos livros que nunca li
das vezes que não te excitei
a roupa que nunca despi
lembro do gosto do beijo
que a minha boca não sentiu
lembro até da despedida
de quem veio e não partiu

Simplesmente

Se tudo anda sem graça
Se o luar já não me encanta
Se chove manso lá fora
E tem teu sol aqui dentro
Se não vejo mais saída
Se teu olhar não me alcança
Se tudo anda tão esquisito
E se já não me reconheço
Se o vento vem de tão longe
Se não quero mais teu beijo
Se te busco e não te encontro
Se me perco no caminho
Se me viro pelo avesso
Se me dano e se me rendo
Se o filme é sem enredo
E se o final é sem sentido
Se meus olhos já não brilham
Se tua luz não me ilumina
Se o sonho é preto e branco
Se a saudade é dolorida
Se a dor é consentida
Se o tormento vem de dentro
Se te arranho e te machuco
E se lambo a tua ferida
Simplesmente é porque tudo
Se confunde em minha vida

10.11.05

Trocadilho

.

Existe uma saudade nua uma existência nula uma vontade doce um jeito de andar uma tristeza cama uma chuva rápida vem um vento norte num lugar lilás tem um toque lento um prazer doído uma renda preta uma solidão um quarto vazio uma viagem estanque um sabor morango nosso amor no chão um papel parede um relógio antigo um país distante um som familiar uma fresta estranha uma fruta verde uma flor de lis um gosto de chá um amor perfeito uma folha de livro uma anotação no canto um cheiro de sangue os meus pés no ar uma praia deserta uma lua cheia estrela do mar


E uma saudade lua uma existência branca uma vontade nua um jeito de amar uma tristeza estranha uma chuva estanque vem um vento doce num lugar do mar um toque familiar um prazer no chão uma renda antiga uma solidão um quarto perfeito uma viagem cama um sabor de sangue nosso amor no ar um papel de livro um relógio lento um país sem cama um som de parede uma fresta preta uma fruta rápida um gosto de lis uma flor deserta um amor vazio uma folha de chá uma anotação um cheiro de verde os meus pés no mar uma roupa nula uma praia distante uma lua doce estrela lilás
.

Monotonia

todo dia sinto tudo igual
sempre a mesma saudade
sempre a mesma cara no espelho
o mesmo barulho do relógio
a mesma notícia na tv
todo dia te querer
sempre a mesma vontade
sempre a mesma verdade,
a mesma música tocando
a mesma e repetida sensação de não te ter
tudo tão óbvio
tão sem possibilidade de mudar
que nem sei como se repetem os dias
as cores, as fomes, os cheiros
nem sei mais como me suporto
como me repito
como me respiro
como me refaço

13.10.05

Quero não querer

quero te bater quero te morder quero te expulsar nunca mais te ver não te desejar não te ansiar não te escutar não me entender quero te excluir e te deletar quero me danar quero anoitecer quero te esquecer nunca mais querer não me torturar nunca mais arder quero caminhar sem olhar pra trás quero me perder nunca mais me achar nunca acreditar nunca suspeitar nunca mais sonhar que vou ter você

1.10.05

Só uma dor

Uma dor não sei de onde me sangra a alma mas é estranhamente bem vinda. É uma dor sem nome e sem motivo. Mas faz sentido. É uma dor de quem sente saudades. É uma dor de quem não sabe perdoar. É uma dor de quem não deseja ser perdoado. É uma dor ardida como só sabe ser a dor de amor - mas amor não dói. É uma dor de ferida que não sabe cicatrizar. É uma vontade não sei do que uma falta não sei da onde uma saudade não sei de quem e um soluço que sempre se esconde. É uma dor que sufoca. Uma dor que não se explica. Uma dor que não tem hora pra acabar.

A chuva

chuva na janela barulho do vento
quietude na casa silêncio na alma
espreito lá fora a folha que dança
e sinto o cheiro da terra molhada
vejo o menino passar distraído e
o tempo que segue sem hora marcada
me vejo menina olhando na chuva o
barco de papel a naufragar na calçada
chuva na janela barulho do vento
quietude no pranto silêncio me acalma
espreito lá fora o tempo que dança
e sinto saudades de tudo e de nada

27.9.05

Como desejava as tuas palavras

.

tua língua de palavras me tocando a pele
acalmando a minha dor
tua língua de idéias delirantes
me aturdindo e me alcançando
tua lingua de segredos
sussurrando minha morte
tua língua ardilosa
me tornando tua cúmplice
tua língua estrangeira
me exilando do meu corpo
tua língua úmida
de promessas nunca feitas...
em tua língua de silêncios
minha alma agonizava
.
.
A velhice é a sabedoria da vida
Já, a morte prematura, a grande interrogação...


Entrega

.

vivo o momento em que sensação e emoção caminham juntas na mesma direção

e o teu olhar e o meu convergem, se encontram e se enternecem
e o teu cheiro e o meu se misturam numa química única e perfumada
e o nosso hálito exala mais paixão e emoção do que qualquer palavra
é o momento em que o sonho e a realidade viram um só
o nosso corpo explode e se projeta em direção ao outro
em forma de luz, de poema, de amor e sensibilidade
e a pele e a alma finalmente se encontram
serenas, apaziguadas, entregues
.

Vingança

Ainda te pego de jeito
E me vingo de ti
Vou à forra
De cada dia
Que te esperei
Te castigo
Por cada noite que
Passei sem ti
Te arrasto
Com a urgência
De um condenado
Com a pressa
De quem não tem
Mais tempo a perder
Com a fome
Dos infelizes
Dos desvalidos
Com a aflição
De quem ansiava
Pelo seu amado
Por um tempo infinito
Mas que finalmente
Vê esta espera acabar

26.9.05

.

me disse um poeta: "morrer é encantar-se"

.

Você

.

Você tortura
Eu praguejo
Você instiga
Eu desejo
Você me olha
Eu não vejo
Você me bate
Eu te beijo
Você me exclui
Eu te almejo
Você me canta
Eu solfejo
.

Só me entendo no caos

.
só me acho se me perco só respiro se me afogo só destruo o que não fiz só desisto se insisto só me busco se te encontro só navego em meu soluço só naufrago em águas calmas só tropeço se caminho só me acalmo se não penso só me vejo se insisto só me entrego se desejo só desejo o que me arde só transpiro se me lanço só me arrisco se suspeito só me inspiro se enlouqueço só reflito o que há no espelho
.

25.9.05

Gosto


este gosto na minha boca
é de saudade
esta ardência no meu corpo
é a tua ausência
esta música que ouço
é o teu silêncio
som em descompasso
arritmia no meu peito
dó desafinado
dolorido
vazio a ser preenchido
de tudo que não vivi contigo
este gosto de saudade é amargo
mas é doce a lembrança do teu beijo
.

24.9.05

Eu

.

eu não sou daqui nem de lugar nenhum eu não me pertenço e nem a ninguém, eu não sei de nada e nem sei de mim eu sou frente e verso e sou lugar comum eu sou vice-versa do que disse antes e escrevo versos que nem rima têm eu sou tentativa sou repetitiva e sou desistência e resisto bem sou mulher distinta sou mulher da vida sou bem aluada e mulher de bem sou voto consciente sou indecisão sou voto vencido sou revolução eu sou fantasia e sou pé no chão sou lá do interior e me viro bem

sou papel de pão sou papel de carta sou naftalina gaveta fechada sou janela aberta porta escancarada sou vinho do porto sou caneca d’água tenho tpm tenho cpf tenho identidade e sou de maior sou menina ainda quero colo afago quero ser amada quero ser mulher muito mais que filha gosto de ser mãe muito mais que a morte vale a pena a vida muito mais que triste tenho sido alegre muito mais que a dor é a aceitação
.

Universo

.

Teu olhar é o sol
Teu toque cometa
O céu é a tua boca
Teu sexo saturno
Tuas mãos lunares
Tateiam minha via láctea
Seios arfantes
Luas minguantes
Estrela no mar
Meteoros, crateras
Estrelas cadentes
Gravitam assim
Perdidos, insones
Sem rota, sem rumo
Fora do prumo
Fora do eixo
Se você não anoitece,
Por de sol e delírio,
No meu corpo celeste

.

6.7.05

Não sou metade

.

rejeito a pureza
desdenho a virtude
renego a renúncia
não quero ser alguém
que não se assume
não se entrega
e não se arrisca
não quero a imaculada cama
sem prazer
a intocada pele
sem sentir
a impecável vontade
sem se dar
não quero a vida pela metade
porque, quando me olho no espelho,
estou lá inteira
corpo, alma, coração
pele, pêlos, apelos
não dá pra esconder
fingir ou negar
a vontade e o desejo
assumo que te quero
e não é um querer desinteressado
porque quero tudo
teus pensamentos
teu sono
teu corpo
teu olhar
teu cheiro
teu desejo
e tua respiração
.

To Cansada

.
to cansada dos meus medos dos meus cuidados dos meus prazos dos meus bloqueios da minha total incapacidade de mudar a minha vida refazer a minha rota cansada da distância da impossibilidade do não realizado to no meu limite to carente to chutando o balde to com vontade de tomar um pileque de quebrar uns pratos de bater a porta de dançar na chuva mergulhar no nada decifrar tua cara me entregar ao vento me entregar ao tempo me deixar levar me atirar no abismo me cravar as unhas de me absolver cair na gandaia cantar serenata comer chocolate ver o sol nascer caminhar na areia me molhar no mar e pegar um trem que me leve urgente pra qualquer lugar

6.6.05

Meninas

Meninas bonitas não falam coisas feias
Meninas bonitas não fazem nada errado
Nem sequer pensam em coisas proibidas
Que é para tornarem-se senhoras distintas
De comportamento ilibado e gestos elegantes
De sentir limitado e atitudes contidas
Tendo em mente que devem sempre dizer não

Meninas bonitas sentam-se à mesa
Mastigam de boca fechada as suas dúvidas
Meninas comportadas não fazem perguntas
Que é para tornarem-se senhoras sem respostas
De portas fechadas, armários arrumados,
Roupas discretas, peles desbotadas
Plantas regadas e vidas ressecadas

Meninas educadas falam em voz baixa
Tem hora pra voltar pra casa
E não conversam com estranhos
Que é para tornarem-se senhoras discretas
Que não falam o que sentem e sentem culpa
E sentem dores nas costas e sentem medo
E permanecem sentadas, mastigando de boca fechada

4.6.05

TPM da Terra

Terra Planeta Mulher
Terra Planeta Molhado
Terra Planeta Misterioso
Terra Planeta Mestiço
Terra Planeta Mendigo
Terra Planeta Machucado

#

Não dá pra ser autor e censor!!!!

2.6.05

Ser

mulher que sangra, que singra, que sofre, que sina!
mulher do vento, do tempo, do medo, da alma
mulher da terra, da seiva, da luta, da vida
mulher que chora, que chora, que chora, que ora...

1.6.05

Padecer no paraíso?

Não concordo quando falam os poetas e os filósofos e pensadores q o amor de mãe é puro, perfeito, sublime... Amor de mãe é difícil, suado, árduo, brigão, ranzinza, visceral, instintivo, complicado! Porque é feito de pele, contato, de repetição, convivência diária, implicâncias cotidianas... Não quero ser a super mãe, nem a mãe do ano, nem a mãe perfeita, nem a mãe-melhor-amiga!!
Quando procuro em mim aquele amor desvelado de que falam os poetas e não acho... Que alívio!! Porque meu amor é só um amor... Imenso, interminável, indescritível, mas acima de tudo, leve... Bom de sentir e de “carregar” pelo resto da vida!!...

29.3.05

Meio Fio

.
.

Me jogo
Em vôo cego
Sem medo
Sem medida
Sem meio termo
Sem meia de nylon
Sem meia verdade
E no meio fio
Meio de pileque
Meio arrependida
Meio descomposta
Assim,
Meio mal amada,
Me pego
.

23.3.05

Mais Uma Páscoa Com a Turma

SABE O QUE É PODER FALAR BOBAGEM, FAZER BOBAGEM, BRIGAR, FAZER AS PAZES, FICAR DE CARA FEIA, FICAR FELIZ, FAZER CONFIDÊNCIAS, INCONFIDÊNCIAS, CONTAR TUDO, NÃO CONTAR NADA, FICAR EM SILÊNCIO, TOMAR BANHO DE RIO, VER O SOL NASCER, ANDAR NA CHUVA, NA RUA NA FAZENDA, VIAJAR, VIAJAR NA MAIONESE, TER UMA HISTÓRIA EM COMUM, TER UMA HISTÓRIA INCOMUM... TUDO ISTO E MUITO MAIS? POIS É... ISTO É A NOSSA TURMA! TURMA DE LAVRAS. TURMA DE AMIGOS. TURMA DE LOUCOS, DE IRMÃOS, DESVAIRADOS, EMOCIONADOS, PASSIONAIS, PERMISSIVOS, INTRANSIGENTES, DOCES, BRIGÕES, DIFERENTES E IGUAIS, COM VONTADE DE ABRAÇAR E DE BEIJAR E DE MATAR!!
ISSO SOMOS NÓS. OU FOMOS. E QUEREMOS CONTINUAR SENDO - A DURAS PENAS, COM SACRIFÍCIOS, DESCONTENTAMENTOS, ENCONTROS, DESENCONTROS...
SABE O QUE É NÃO TER QUE EXPLICAR NADA? SABE O QUE É RESPIRAR ALIVIADO? SABE O QUE É ALGUÉM QUE CONHECE TUA HISTÓRIA FAMILIAR, TEU CURRICULUM VITAE, TEUS DEFEITOS E QUALIDADES, TEUS FORAS, TEUS ERROS, TEUS ACERTOS, O PÚBLICO E O PRIVADO, O OFICIAL, O EXTRAOFICIAL, O TEU MELHOR E A TUA MEDIOCRIDADE, TEU MAU HUMOR, TUA EUFORIA, TUA CARA? SABE ALGUÉM QUE TE CONHECE PELA CARA? CHEGA, TE OLHA E SACA TUDO EM UM MILIONÉSIMO DE SEGUNDO E PERGUNTA: O QUE FOI QUE ACONTECEU? O QUE É QUE TU TENS? ALGUÉM QUE TU NÃO TEM VERGONHA DE ABRAÇAR, BEIJAR, DIZER QUE AMA, QUE TÁ COM SAUDADE, QUE É LOUCO, QUE É INSUPORTÁVEL, MUUUUITO CHATO? ALGUÉM QUE, DEPOIS DE PASSAR UM ANO SEM VER, ESTÁ EXATAMENTE IGUAL, SEM TER QUE DAR NENHUMA EXPLICAÇÃO, SEM TER A MENOR CERIMÔNIA? MULTIPLICA TUDO ISSO POR MUITOS AMIGOS, MUITO DIFERENTES, QUE CONVIVEM HÁ MUITOS ANOS, QUE SE PERMITEM FICAR JUNTOS, SEMPRE, APESAR DA DISTÂNCIA GEOGRÁFICA? OU QUE SÃO VIZINHOS E PASSAM ALGUNS MESES SEM SE VISITAR? E QUE CONTINUAM SE QUERENDO BEM, TORCENDO UM PELO OUTRO, EMBORA, ÀS VEZES, QUERENDO TORCER O PESCOÇO UM DO OUTRO?
AMIGOS QUE RESISTEM AS NAMORADAS, AS MULHERES, AOS NAMORADOS, SENTEM CIÚME, IMPLICAM, INFERNIZAM, MALTRATAM JUSTAMENTE AQUELE SER POR QUEM O AMIGO SE TOMOU DE PAIXÕES E DESEJA QUE SE TORNE PARTE DA TURMA?!! ESTE SER, ALVO DE PAIXÕES, TAMBÉM É ALVO DE IMPLICÂNCIAS, MAUS TRATOS, E É TESTADO ATÉ A EXAUSTÃO - NOSSA OU DELES, ATÉ, FINALMENTE, SER "ENGOLIDO", OU SABOREADO, OU SUPORTADO, OU ADOTADO...
JÁ FOMOS TÃO INGÊNUOS, FRÁGEIS, INEXPERIENTES... JÁ NOS AMPARAMOS TANTO UNS NOS OUTROS...JÁ FOMOS TÃO SACANAS, MALICIOSOS, CÚMPLICES...JÁ RIMOS TANTO, CHORAMOS TANTO...JÁ NOS PERDEMOS, JÁ NOS ACHAMOS, NOS ENFRENTAMOS, NOS SUPORTAMOS, NOS ADORAMOS... RIMOS TANTO, TANTO, TANTO... CHORAMOS DE RIR, CHORAMOS DE FELICIDADE, CHORAMOS POR BOBAGENS, CHORAMOS DE TRISTEZA...NOS INDIGNAMOS, SUBVERTEMOS, AGREDIMOS, NOS INTITULAMOS JUÍZES, PERDOAMOS, FOMOS COMPLACENTES... ÀS VEZES FOMOS MUITO DUROS... DISCUTIMOS POLÍTICA, RELIGIÃO, FUTEBOL... CARNAVAL... CANTAMOS, DESAFINAMOS, DANÇAMOS, TOMAMOS TEQUILA, MOSTRAMOS A BUNDA, A CARA, A ALMA, A CORAGEM, O MEDO... TIVEMOS FILHOS, ADOTAMOS OS FILHOS UNS DOS OUTROS, CONTAMOS COISAS INCONTÁVEIS AOS FILHOS UNS DOS OUTROS... ENVELHECEMOS SEM DEIXAR DE SER CRIANÇAS INCORRIGÍVEIS E MAL EDUCADAS... ENGORDAMOS, FICAMOS GRISALHOS... AS PRIMEIRAS RUGAS E BARRIGAS, AS CARECAS, OS QUILOS A MAIS FORAM DENUNCIADOS AOS GRITOS, SEM DÓ NEM PIEDADE... MAS CONTINUAMOS NOS ACHANDO LINDOS, IRRESISTÍVEIS, CHARMOSOS E COMEMORAMOS, JUNTOS, NOSSOS QUARENTA ANOS, CERTOS DE QUE A VIDA ESTAVA APENAS COMEÇANDO!!! EM ALTO ESTILO, CLARO!! PASSAMOS FÉRIAS JUNTOS, DORMIMOS NA MESMA REDE, BEBEMOS NO MESMO COPO, SENTAMOS NO COLO UM DO OUTRO, SEM HORA PRÁ ABRAÇAR, BEIJAR E XINGAR!!! SENTAMOS NA AREIA, OLHAMOS O MAR, VIAJAMOS DE ÔNIBUS, ESTRADA FORA, HORAS SEM DORMIR, FALANDO BOBAGEM, VENDO A PAISAGEM ATRAVÉS DAS JANELAS...FOMOS AOS CASAMENTOS UNS DOS OUTROS, AO HOSPITAL QDO ALGUÉM ADOECIA... ACARICIAMOS AS BARRIGAS GRÁVIDAS DE NOSSOS FILHOS, FOMOS A FORMATURAS, BATIZADOS, COMEMORAÇÕES... SUPORTAMOS AS PERDAS DE PESSOAS QUERIDAS... ACOMPANHAMOS A VIDA DE CADA UM... APRENDEMOS A NOS AMAR E A NOS VER, NOS OLHOS UM DO OUTRO...
TUDO COMEÇOU NUMA ÉPOCA (ANOS 70) E NUMA CIDADE COMO LAVRAS, ONDE CHOCAMOS AS PESSOAS, MUITAS VEZES ( NAQUELA ÉPOCA NÃO ERA COMUM RAPAZES E MOÇAS SEREM AMIGOS INSEPARÁVEIS, ANDAREM SEMPRE JUNTOS, ABRAÇADOS, MÃOS DADAS, MISTURADOS, A QUALQUER HORA...). MAS TÍNHAMOS PAIS ESPECIAIS, QUE ACEITAVAM A NOSSA CONVIVÊNCIA E SE DIVERTIAM COM NOSSAS MALUQUICES... INSPIRAMOS OUTRAS TURMAS A SE FORMAR... NOS TORNAMOS MÉDICOS, ADVOGADOS, BANCÁRIOS, AGRÔNOMOS, PUBLICITÁRIOS, FAZENDEIROS, EMPRESÁRIOS, DONAS DE CASA, PROFESSORES, VEREADORES (OPS), MAS CONTINUAMOS BOBOS, ENGRAÇADOS, PALHAÇOS, FAZEMOS FIASCO, PAGAMOS MICO, DAMOS COMÍCIOS, FAZEMOS LUAUS, CANTAMOS NA PRAÇA, BRINCAMOS DE RODA, SONHAMOS ACORDADOS, TEIMAMOS EM NÃO ENVELHECER... TROCAMOS E-MAILS, TROCAMOS CORRESPONDÊNCIAS, TROCAMOS TELEFONEMAS, TROCAMOS FARPAS... TEMOS UM SENSO DE HUMOR ESQUISITO, ATRAVESSADO, INCONVENIENTE, SÁDICO... TEMOS CRÍTICA, AUTOCRÍTICA, NENHUM SENSO DE RIDÍCULO, FAZEMOS QUESTÃO DE CHAMAR ATENÇÃO, FALAR ALTO, (FALAMOS TODOS AO MESMO TEMPO), COMER COM A MÃO, FALAR DE BOCA CHEIA, COM OS COTOVELOS EM CIMA DA MESA...SABEMOS TAMBÉM SER GENTIS, CHARMOSOS, SEDUTORES... COZINHAMOS UNS PROS OUTROS, TROCAMOS AFAGOS, CARINHOS, MAS SOMOS INCOERENTES E NOS SABOTAMOS! SABEMOS O PONTO FRACO DE CADA UM, É ATÉ COVARDIA!!!! TUDO ISSO, APESAR DE - OU POR CAUSA DE - CADA UM TER PERSONALIDADE FORTE, ESTILO PESSOAL, JEITO PARTICULAR DE VER AS COISAS.
SOMOS MUITO DIFERENTES NO PENSAR E NO AGIR E NOS GOSTAMOS TANTO!!! NOS QUESTIONAMOS, LEMBRAMOS COISAS, NOS DIVERTIMOS, MAS, ACIMA DE TUDO, SABEMOS CELEBRAR, VALORIZAR, COMEMORAR NOSSA AMIZADE, EM CADA OPORTUNIDADE, CADA ABRAÇO, CADA PILEQUE, CADA DESABAFO, CADA ENCONTRO!!!! ACHO QUE AS NOSSAS ALMAS SE ENTENDEM, NOSSA AMIZADE ESTÁ ACIMA DO BEM E DO MAL, É PRÁ O QUE DER E VIER, É PRÁ O TEMPO FORTALECER!!!!  NUNCA TIVEMOS DIFICULDADES EM DIVIDIR DESPESAS, NUNCA NOS ENVOLVEMOS EM FOFOCAS, NUNCA FALAMOS COM MALDADE UM DO OUTRO!! AS COISAS SEMPRE FORAM ABERTAS, ESCLARECIDAS, RESOLVIDAS... SE TEVE ALGUMA DESSAS SITUAÇÕES É PORQUE UMA DAS PARTES DEFINITIVAMENTE NÃO ERA REALMENTE DA TURMA!!! CLARO QUE FALAMOS MAL UM DO OUTRO!! MAS NÃO COM MALDADE. SERÁ QUE ALGUÉM QUE NÃO É DA TURMA CONSEGUE ENTENDER ESTA SUTIL DIFERENÇA??!!!!!!!! E TEM MAIS: SÓ NÓS PODEMOS FALAR MAL DE NÓS MESMOS!! NINGUÉM MAIS SE ATREVA!!! COSTUMAMOS BRINCAR QUE VAMOS ACABAR TOMANDO SOPA, NOS QUEIXANDO DE ARTRITES E REUMATISMO, CADUCANDO E TROCANDO BENGALADAS!! PASSAREMOS FÉRIAS JUNTOS EM ESTAÇÕES TERMAIS, ENLOUQUECENDO OS DEMAIS HÓSPEDES!!!!!!!!!! ESTAMOS NA ADOLESCÊNCIA DA 3ª IDADE, ESTAMOS NA ENVELHECÊNCIA, E ESTAMOS UNS GATOS, MELHORES DO QUE NUNCA!!!!!!!!! É DIFÍCIL DESCREVER NOSSO RELACIONAMENTO, NOSSOS CÓDIGOS, NOSSO SENSO DE HUMOR, NOSSA SENSIBILIDADE, NOSSO JEITO DE ENCARAR AS COISAS... NOSSA FALTA DE LIMITES QUANDO NOS REUNIMOS VEM DA CERTEZA DO AMOR QUE TEMOS UM PELO OUTRO E DA CONSCIÊNCIA DO QUANTO NOS CONHECEMOS UM AO OUTRO!!! QUEM TEM ESTA CERTEZA NA VIDA (DE TER AMIGOS QUE NOS CONHECEM PROFUNDAMENTE - COM TODOS OS NOSSOS DEFEITOS E NOS AMAM PROFUNDAMENTE - APESAR DE TODOS OS NOSSOS DEFEITOS) TEM O CORAÇÃO APAZIGUADO...QUE MAIS SE PODE QUERER? CLARO QUE TIVEMOS DIFICULDADES, FASES, PROBLEMAS...TIVEMOS QUE NOS READAPTAR, REFAZER ALGUMAS COISAS, DESCOBRIR NOVOS CAMINHOS, CRIAR NOVAS FÓRMULAS ... AFINAL, SOMOS MUTANTES, METAMORFOSES AMBULANTES...MAS A "ESSÊNCIA" CONTINUA INTOCADA, PRESERVADA, REVERENCIADA... É BOM DEMAIS LEMBRAR DA NOSSA TURMA... CONSTATO MAIS UMA VEZ COMO GOSTO DE CADA UM DESSES MALUCOS MARAVILHOSOS... SAUDADES ENORMES DE CADA UM... SAUDADES DE LAVRAS, SAUDADE DE MIM... PORQUE ESTA TURMA É O ESPELHO ONDE VEJO REFLETIDA A MINHA VIDA INTEIRA... ESPELHO GENEROSO ONDE VISLUMBRO SORRISOS, OLHARES, FÉRIAS, CHEGADAS, NOVIDADES, HISTÓRIAS PRÁ CONTAR, CHEIROS, SABORES, DESCOBERTAS, SENTIMENTOS, CONFIDÊNCIAS, ABRAÇOS APERTADOS...
PASSA UM FILME NA MINHA CABEÇA, E NESTE FILME ME RECUSO A VER TRISTEZAS, DESPEDIDAS, RUPTURAS, DECEPÇÕES E, PRINCIPALMENTE, O TAL DO "THE END"!!!!!!!!

28.2.05

Blefe!!

Propaganda enganosa
Alarme falso
Cd pirata
Engodo
engano
plágio
blefe.
eu
me
sinto
assim
cada vez
que falo
de emoções.
nada é novo.
tudo já foi dito
descrito
rimado
mentido
nada faz sentido

26.2.05

Dude & Kika

Quando penso nos meus filhotes sinto um amor tão grande que não cabe dentro de mim!
São a melhor coisa que me aconteceu.
Quando olho pra eles tenho a sensação de felicidade, plenitude, realização, de ter feito a coisa certa. Porque eles são lindos, determinados, tem personalidade, caráter, são do bem... Nada me cobram, mas eu acho que estou em dívida. Deveria ter providenciado o aparelho do Dude, a carteira de motorista da Kika. O Dude ta doido por um notebook, a Kika precisa de um pc só pra ela. Precisam de roupas novas, precisam dinheiro pra livros, cursos, pra viajar... Queria poder tirar umas férias decentes, viajar junto com eles, aprender com eles...
Fico mais apaziguada quando penso que me sinto em dívida de coisas materiais... Posso estar enganada – ou me enganando, mas sinto que dei todo o amor e toda a atenção e todo o tempo e toda a minha disponibilidade e tudo o que sei e contei todas as histórias e cantei todas as cantigas de ninar... Sei que estive presente, próxima, acessível, amorosa. Sei que comprei todas as brigas, que impus os limites necessários, dei as broncas que mereceram. Sei que fui sincera, respondi os porquês do melhor jeito que sabia, que alertei, que dei liberdade, que soube deixar que suas personalidades e vocações e vontades viessem à tona, influenciando o menos possível... Sei o quanto me custou deixar que crescessem, que saíssem, que caminhassem em direção a vida... porque gostaria de tê-los sempre muito perto, protegidos, seguros... Ao mesmo tempo me orgulho quando vejo que são seguros pra caminharem sozinhos!
O Dude tão sedutor... olhos pretos, sobrancelhas escuras, bem desenhadas... ele nem sabe o quanto é bonito! Gosto do jeito como ele se veste, o jeito que caminha, a postura... Adoro quando ele toca violão pra um monte de gente, enfrenta o público, canta de um jeito lindo!! Adoro quando ele toca só pra mim!! Meu Dude...
A Kika tão doce... olhos verdes, iluminada... ela sabe como é linda!! E gosto do jeito como lida com isto, sem vaidade, sem ser pretensiosa... Faz mil amigos, de todos os lugares, todas as idades... Ela é perfumada, é leve, é alegre, é festeira, é sensível... Tem sido tão importante na minha vida, nas minhas decisões... Ela me dá coragem! Me inspira! Me motiva!
Tudo de bom a minha dupla!! Dude&Kika!!!

Tentativas...

"Meu querido diário..."
Me sinto assim! Uma adolescente colocando no papel seus mais íntimos segredos!
Apesar de um certo senso de ridículo ou medo de que meu "diário" seja encontrado, vou em frente!!