> Roccana Poesias: 03/2006

*

.
.

"Poesia traz vertigens. Ora cruel, ora leve, ela é desnuda."

.
.

10.3.06

8.3.06

Líquidos

emudece
umedece
água na boca
beija suave
toca molhado
escorre

transpira
sua salgado
abraça suado
rega
inunda
molha
em líquido amniótico sonha
chuva gelada
água fria na cara

chora

8 de março


Um belo dia nos percebemos meninas. E somos educadas para ter modos de menina. E o tempo vai passando e viramos adolescentes, com todo o peso que isso possa ter: padrão de beleza, de magreza, de visual, somados às dúvidas e questões que sempre surgem nesta fase. Fase em que aprendemos a ser amigas, a ter amigas, a viver em bando, a conviver, depender, curtir, trocar... E, enfim, nos apaixonamos. E viramos namoradas. Querendo conquistar, seduzir, encantar... E a vida segue seu curso. Vamos nos transformando em estudantes, trabalhadoras, cidadãs, consumidoras, contribuintes, eleitoras, fatias do mercado... E nos casamos. Viramos parceiras. Viramos amantes. Viramos donas de casa. E viramos mães. E nos dividimos. Nos multiplicamos. Somos arrumadeiras, passadeiras, vamos às compras, cuidamos do jardim, limpamos a casa, tentamos entender de psicologia infantil, de economia doméstica, de questões sociais, medicina alternativa, horóscopo chinês, queremos nos manter atualizadas, interessantes, magras, atraentes, queremos ter senso de humor, e ter bom senso, e ter senso prático e não sonhar demais. Queremos nos enquadrar e não deixar de sonhar e amadurecer e manter o equilíbrio e manter as contas pagas e viajar e reformar a casa e pintar o cabelo e acertar a cor e a fazer ginástica e olhar vitrines e não esquecer do pré-câncer e do exame de mama e não esquecer dos aniversários e manter a casa organizada e ter tpm sem agredir ninguém e ter depressão sem ninguém notar e assistir novela e ler o jornal e olhar pro céu e olhar pro mar e ler poesias e fazer amor e não desistir e olhar no espelho o tempo passar a vida passar e só então entender que só o que queremos é ser exatamente assim: únicas, imperfeitas, plenas, imprevisíveis, livres, assumidas, capazes de cultivar amigos, de viver o amor e acarinhar os filhos e tocar a vida e ser simplesmente uma mulher feliz!

3.3.06

Datas

sei das datas
dos dotes
dos dedos
sei dos dramas
das tramas
das tragédias
vejo no tempo
a marca
o traço
a agonia
sinto na pele
a tua falta
sinto na alma
a tua volta
busco outras vidas
outros ares
outros caminhos
mas, agora
nada disso importa
nem prazos
nem ritos
nem datas
apenas
o aqui
e o agora
simples assim
sem começo
meio
ou fim